sexta-feira, 29 de outubro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

"As divergências doutrinárias no meio espírita"

Francisco Rebouças:

“Precisamos ver as casas espíritas repletas de crianças, aprendendo a moral e a ética ensinada pela Doutrina dos Espíritos”

A Casa espírita deve ter por meta a evangelização daqueles
que anos mais tarde estarão com a responsabilidade
de
levar adiante a verdadeira mensagem espírita e a
transformação para melhor de nossa sociedade

Nascido em São Luís do Maranhão, José Francisco Costa Rebouças reside atualmente em Niterói (RJ), onde é responsável pelo Centro de Interesse da Mediunidade, do Plantão Pró-Casa Espírita, que procura reciclar matérias e preparar trabalhadores para atuar com desenvoltura e conhecimento nas diversas atividades das Casas espíritas naquela cidade. A família de Rebouças mudou-se para o Rio de Janeiro, quando ele ainda era criança, em busca de melhores oportunidades de trabalho.

Pós-graduado em Recursos Humanos, o articulista e colaborador de nossa revista, fala sobre diversos assuntos na entrevista que nos foi concedida, como o leitor verá

em seguida.

O Consolador: Que cargos ou funções você já exerceu no movimento espírita?

Fiz parte da equipe encarregada pela área da mediunidade da extinta USEERJ (União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro), hoje CEERJ (Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro), comandada à época por Miguel Tavares de Gouveia, com a qual participei de vários seminários realizados por todo o estado do Rio de Janeiro, sobre o referido tema. Fui membro do CEUNIT (Conselho Espírita de Unificação de Niterói), de onde me retirei por absoluta falta de tempo para comparecer com freqüência às reuniões. Como não gosto de descumprir com meus compromissos, então preferi me afastar.

O Consolador: Que cargo você exerce no momento?

Sou responsável pelo Centro de Interesse da Mediunidade, do Plantão Pró-Casa Espírita, evento oficial do Conselho Espírita de Unificação de Niterói (CEUNIT). O Plantão procura reciclar matérias e preparar tarefeiros para actuar com desenvoltura e conhecimento nas diversas actividades das casas espíritas em nossa cidade. Estou presidente do Conselho Fiscal da UMEN – União da Mocidade Espírita de Niterói e também faço parte da coordenação dos grupos de estudo em nossa casa. Participo como articulista de diversos órgãos de divulgação da doutrina espírita por todo o Brasil, sites, jornais, revistas, além de realizar palestras por todo o estado.

O Consolador: Quando você teve contacto com o Espiritismo?

Fui criado em uma família católica, e tomei conhecimento da Doutrina Espírita por meio de minha namorada, hoje minha esposa Heloisa, que já era espírita 35 anos atrás.

O Consolador: Qual foi a reacção de sua família ante sua adesão à Doutrina Espírita?

Inicialmente não gostaram da ideia, pois, como eu, não tinham conhecimento do que era ser verdadeiramente espírita. Hoje, já mudaram de opinião e, embora continuem em sua maioria católicos, respeitam minha opção de seguir a Doutrina dos Espíritos.

O Consolador: Dos três aspectos do Espiritismo – Científico, Filosófico e Religioso – qual é o que mais o atrai?

Os três, pois não consigo ver um mais importante que o outro.

O Consolador: Que autores espíritas mais lhe agradam?

São muitos. Entre eles, Kardec, André Luiz, Emmanuel, Joanna de Ângelis, Vianna de Carvalho, Manoel Philomeno de Miranda, Richard Simonetti. Amélia Rodrigues, Léon Denis, Deolindo Amorim, Eurípedes Barsanulfo, Yvonne do Amaral Pereira, Bezerra de Menezes, Camilo, entre outros.

O Consolador: Que livros espíritas você considera de leitura indispensável aos confrades iniciantes?

A codificação kardequiana incluindo a Revista Espírita, as obras de Francisco Cândido Xavier, particularmente aquelas escritas por Emmanuel e André Luiz.

O Consolador: Se você fosse passar alguns anos num lugar remoto, com acesso restrito às actividades e trabalhos espíritas, que livros pertinentes à Doutrina Espírita levaria?

Os que citei anteriormente e ainda as obras de Joanna de Ângelis, Yvonne A. Pereira, Bezerra de Meneses, Léon Denis, que não poderiam faltar.

O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você, o Espiritismo é uma religião?

Jamais tive qualquer dúvida a esse respeito. Sobre o assunto fiz um artigo em que coloco os argumentos encontrados na codificação, para elucidar esse assunto, do qual retiro o seguinte trecho: os Espíritos proclamam um Deus único, soberanamente justo e bom; eles dizem que o homem é livre e responsável por seus actos, recompensado ou punido pelo bem ou pelo mal que houver feito; colocam acima de todas as virtudes a caridade evangélica e a seguinte regra sublime ensinada pelo Cristo: fazer aos outros como quer que nos seja feito. Não são estes os fundamentos da religião? (...). Quem se interessar por ler o artigo poderá encontrá-lo no meu nome, na secção artigos no endereço que segue: http://www.evangelho.espiritismo.nom.br. Isso não é nenhuma propaganda do site, não tenho esta intenção.

O Consolador: Outro tema que suscita geralmente debates acalorados, diz respeito à obra publicada na França por J. B. Roustaing. Qual é sua apreciação dessa obra?

Sou espírita convicto e faço minhas as palavras de Kardec sobre o assunto: “Convém, pois, considerar essas explicações como opiniões pessoais dos Espíritos que as formularam, opiniões que podem ser justas ou falsas, e que, em todos os casos, têm necessidade da sanção do controle universal, e até mais ampla confirmação não poderiam ser consideradas como partes integrantes da Doutrina Espírita” – palavras do codificador na Revista Espírita de 1866, em se reportando aos “Evangelhos explicados” pelo Sr. Roustaing. Dessa forma, em minha opinião, o roustainguismo não é nem nunca será Espiritismo.

O Consolador: O terceiro assunto em que a prática espírita às vezes diverge está relacionado com os chamados passes padronizados, propostos na obra de Edgard Armond. No Paraná a opção já definida pela Federação é tão-somente a imposição das mãos, tal como recomenda José Herculano Pires. Que você pensa a respeito?

Respeito as opiniões dos que não têm o mesmo entendimento meu sobre qualquer assunto do Espiritismo, mas não posso concordar com algo que minha exigente razão não aceita, e esse é um desses assuntos, que passo a explicar por quê. Em matéria de assuntos que levantam polémicas, procuro pesquisar a fundo nas obras da codificação e nas outras de reconhecido conteúdo doutrinário os fundamentos para me colocar a favor desta ou daquela teoria, e, no assunto em epígrafe, trago algumas passagens que consolidaram minha posição em relação ao tema que é extenso e pede melhores reflexões e aprofundados estudos:

1) “O Coronel Sobreira, inspirado pelo Mentor, acercou-se do médium e acudiu Matias incorporado com o recurso da aplicação de passes magnéticos de longo curso com a função calmante...” Livro: Grilhões Partidos Cap. 19, Divaldo P. Franco, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Livraria Alvorada Editora 11ª edição.

2) “Conrado, impondo a destra sobre a fronte da médium, comunicou-lhe radiosa corrente de forças e inspirou-a a movimentar as mãos sobre a doente, desde a cabeça até o fígado enfermo. Notamos que o córtex encefálico se revestiu de substância luminosa que, descendo em fios tenuíssimos, alcançou o campo visceral. A senhora exibiu inequívoca expressão de alívio, na expressão fisionômica, retirando-se visivelmente satisfeita, depois de prometer que voltaria ao tratamento.” Livro: Nos Domínios da Mediunidade – FEB 23ª edição, Cap. 17- Página 169. Chico Xavier pelo Espírito André Luiz.

3) “A vontade de aliviar, de curar - dissemos - comunica ao fluido magnético propriedades curativas. O remédio para os nossos males está em nós. Um homem bom e sadio pode actuar sobre os seres débeis e enfermiços, regenerá-los por meio de sopro, pela imposição das mãos e mesmo mediante objectos impregnados da sua energia. Opera-se mais frequentemente por meio de gestos, denominados passes, rápidos ou lentos, longitudinais ou transversais, conforme o efeito, calmante ou excitante, que se quer produzir nos doentes. Esse tratamento deve ser seguido com regularidade, e as sessões renovadas todos os dias até à cura completa.” Livro: No Invisível, Léon Denis - Cap. XV.

Existem outros textos em outras obras que aqui não cito no momento para não mais me estender sobre o assunto, mas que nos esclarecem muito sobre o procedimento do passe. Se em mediunidade a concentração e a sintonia são factores indispensáveis para que nós médiuns possamos registar as inspirações que os Bons Espíritos nos transmitem, como desconsiderar essas instruções que recebemos na hora da aplicação dos passes? Não quero aqui passar a impressão de saber mais que ninguém, apenas registar o porquê de não concordar com essa prática que se alastra no movimento espírita, e posso mesmo afirmar que, após exaustiva pesquisa sobre o tema, não encontrei na codificação ou nas obras suplementares da Espiritualidade qualquer mensagem que abone esse procedimento.

O Consolador: Como você vê a discussão em torno do aborto? No seu modo de ver as coisas, os espíritas deveriam ser mais ousados na defesa da vida como tem feito a Igreja?

Os Espíritos Superiores nos afirmam: “São chegados os tempos em que os ensinamentos do Cristo têm de ser completados; em que o véu intencionalmente lançado sobre algumas partes desse ensino tem de ser levantado, em que a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista, tem de levar em conta o elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso. Então, não mais desmentida pela Ciência, a Religião adquirirá inabalável poder, porque estará de acordo com a razão, já se lhe não podendo mais opor a irresistível lógica dos fatos.” (ESE – Cap.1, item 8.) Penso que o Espiritismo, com tantos conhecimentos da vida espiritual, muito mais responsabilidade tem de lutar com todos os recursos disponíveis para a vitória da vida frente à ignorância e à morte. Dessa forma sou favorável a um engajamento sério de todos os espíritas na luta contra a aprovação dessa aberração que representa essa Lei indecente e criminosa, participando activamente em todos os sectores da sociedade em que actuamos, fazendo a parte que nos compete fazer, para que tenhamos a consciência tranquila mesmo que esse absurdo venha a ser legalizado, contrariando nossos princípios cristãos.

O Consolador: A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o apoio da Doutrina Espírita. Kardec e outros autores, como Joanna de Ângelis, já se posicionaram sobre esse tema. Surgiu, no entanto, ultimamente a ideia de ortotanásia, defendida até mesmo por médicos espíritas. Qual a sua opinião a respeito?

Apesar de novo, já li bastante sobre o assunto, mas não me convenci com seus argumentos; por essa razão, continuo contra qualquer iniciativa de abreviação da vida de quem quer que seja. Se não somos donos sequer dos nossos destinos, como decidir o destino do próximo?

O Consolador: O movimento espírita em nosso país lhe agrada ou falta algo nele que favoreça uma melhor divulgação da Doutrina?

Esta pergunta veio a calhar. Penso que o movimento espírita ainda é bastante egoísta nessa e em muitas outras questões. Basta para isso que se tente divulgar um trabalho, uma notícia etc. Se você não é figura conhecida nacionalmente no meio espírita, provavelmente desistirá, pois, por mais que faça, não encontrará eco em sua solicitação, salvo honrosas excepções. No entanto muitas discussões sem fundamento, que prejudicam sobremaneira o movimento espírita, têm espaço garantido nos meios de divulgação do Espiritismo. Penso que precisamos nos dar a mão, ajudando-nos mutuamente, tendo como lema: “Fora da caridade não há salvação”.

O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar em todo o país e como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida?

Estamos vivendo a transformação que os Espíritos nos apregoaram na obra da codificação, e sabemos que é passageiro este estado de coisas e que tudo vai mudar para melhor. Foi Jesus que nos asseverou que: “... os mansos herdarão a Terra”. Resta-nos trabalhar para fazer por onde merecer ser um dos herdeiros a comprovar e vivenciar as alegrias dos novos tempos que estão a caminho.

O Consolador: A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já deu, como sabemos, seus primeiros passos. Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais?

Seria muita audácia minha estabelecer uma data para esse acontecimento, mesmo porque tudo dependerá da boa vontade dos homens em concorrer para esse advento. Confirmo, como espírita que sou, que não tenho a menor dúvida que esse tempo chegará, e rogo ao Pai que nos auxilie muito para que seja o mais breve possível.

O Consolador: Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem actualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?

Dar total atenção ao trabalho de evangelização das crianças em nossas instituições espíritas. Precisamos atender ao apelo de Jesus quando nos disse: “Deixai que venham a mim as criancinhas”. (ESE – Cap. 8, item 18.) A Casa espírita deve ter por meta, entre outras tantas coisas igualmente importantes, o cuidado na evangelização daqueles que anos mais tarde estarão com a responsabilidade de levar adiante a verdadeira mensagem espírita e a transformação para melhor de toda uma sociedade. É de pequeninos que se formam os homens. Precisamos, pois, ver as casas espíritas repletas de crianças, aprendendo desde cedo a moral e a ética ensinada pela Doutrina dos Espíritos, contribuindo dessa forma para uma sociedade mais consciente e responsável em todos os segmentos de nossa sociedade.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

" Imortalidade do Espírito "


PARTIDAS E CHEGADAS


Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espectáculo de beleza rara.

O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.

Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.

Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.

O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade
que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.

O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exacto instante em que alguém diz:
já se foi, haverá outras vozes,
mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro".

Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: "já se foi".

Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo. Sua capacidade mental não se perdeu. Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado.

Conserva o mesmo afecto que nutria por nós. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita no outro lado.

E é assim que, no mesmo instante em que dizemos:
já se foi, no mais além, outro alguém dirá feliz: "já está chegando".

Chegou ao destino levando consigo
as aquisições feitas durante a viagem terrena.
A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espectaculares, pois a natureza não dá saltos.

Cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afectos e desafectos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.

A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.
Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.

Um dia partimos do mundo espiritual na direcção do mundo físico; noutro partimos daqui para o espiritual, num constante ir e vir, como viajantes da imortalidade que somos todos nós.

(Espírito Victor Hugo)

Pensamentos de Victor Hugo retirado do livro
"A reencarnação através dos séculos"
Editora Pensamento
de Nair Lacerda.